domingo, 26 de abril de 2009



CORDEIRO DE DEUS, QUE TIRAI OS PECADOS DE MÃE.



Mãe tava em contagem regressiva. Só ouvia falar de um tal jantar de cordeiro que a igreja da professora de ginástica dela ia dar.
E uma semana antes mãe falou:
- Zalma, vai ter um jantar bem chique com cordeiro que a igreja da minha professora vai dar e ela me chamou. Eu vou com Dila.
E eu: “Eita, mulher, que legal!”
Passam-se os dias e então chega o dia do tal jantar.
Só escuto ela no telefone com Dila:
- Ei, mulher, jantasse? Foi!? Ah, eu não jantei não. Tô indo pronta pra comer o cordeiro.
Pen pen! (som da buzina). A professora passa lá em casa pra buscar mãe e Dila.
- Xau, Zalma, já vou.
- Xau. Bom jantar!
Vou dar aula e nesse dia volto lá pras 9h.
Pouco tempo depois chega mãe.
Quando vou abrir a grade pra ela entrar, só escuto as risadas dela. Aí, pergunto: “O que foi mulher?” E já começo a rir também porque já sei que dali vinha alguma presepada.
E mãe não conseguia nem falar de tanto que ria.
E eu pergunto:
- E ai, o cordeiro? Foi bom?
Aí è que ela riu mesmo.
E eu, macaca velha das presepadas de mãe, fui logo emendando:
- Já sei! Não tinha cordeiro nenhum, né?!
E então ela começa a falar e rir ao mesmo tempo.
- Mulher! Vim o caminho todo rindo. Eu e Dila.
Deixa eu te contar. Agora deixa eu comer logo que eu tô morrendo de fome.
E então, ela continua.
Foi assim. A Igreja muito bonita. Muito bem decorada. Então a gente foi entrando e o pastor tava lá com um computador desses igualzinho ao teu. Branquinho, numa mesinha. Perto dele, a mesa muito bem decorada com frutas, aquele pão redondinho “espragatado” em cima. Como é o nome?
- Pão sírio?
Isso! Agora duro e sem gosto. Uns copos com vinho (acho).
Então, os convidados foram pra perto da mesa e ficaram ao redor, enquanto o pastor começava a falar. Começou falando do significado da Semana Santa, e etc., e a gente escutando.
(Aí, pessoal, peço aos cristãos que não leiam mais essa historia, porque só Deus pra perdoar a tradução que mãe fez das palavras do pastor.)
Então, continuemos.
Aí o pastor começou a falar da historia do cordeiro. Do poder que o sangue do cordeiro tem. Que o sangue era passado nas portas das casas, dentro das casas. E isso fazia com que os soldados ou os anjos? Nao sei. Ou eram os soldados ou os anjos, nao entrassem nas casas.
- Os anjos nao entrassem, mãe? (questiono).
- Sei lá, mulher!
- Não. Tô estranhando porque anjo é coisa boa.
E ela: pois é. Ah, era a historia das doenças. Das pragas que não entravam por causa do sangue do cordeiro. E aí teve uma hora que a gente comeu aquele pedaço de pão seco e então minha professora me deu o cálice de vinho pra beber.
- Não, mulher. Não tomo vinho não?!
E a professora disse:
- Não é vinho não, Marlene. É suco de uva.
- Ah, tá! Então eu tomei.
E o pastor continuou falando que o cordeiro não podia ter mácula, tinha que ser perfeito. O melhor cordeiro.
Nesse momento todos estavam de mãos dadas e de olhos fechados. E eu pensando: eita que esse cordeiro deve tá uma maravilha! Abri uma brecha de olho pra ver se o cordeiro tava chegando.
(E nesse momento imagino que mãe tava imaginando chegar dois cozinheiros de branco e chapeuzinho segurando uma travessa com um cordeiro suculento com uma maça na boca.)
Voltando.
Abri uma brecha de olho e...nada de cordeiro.
Cutuquei Dila, que tava do meu lado, e disse:
- Dila, mulher, cadê esse cordeiro???
- Sei nao, D. Marlene.
E então o pastor, em tom de finalização de cerimônia, menciona aquela famosa frase do “Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo”. E conclui a celebração:
- Irmãos, vão na paz de Deus!
Mãe olha pra Dila e num tom de uma surpresa anunciada, pergunta de novo.
- Dila, e o cordeiro????
Então as duas começaram a rir.
Aquela altura confirmaram que o cordeiro, tema do encontro, era meramente simbólico.
Assim, mãe acabara de cometer um pecado: o da gula.
Portanto, peço: “Cordeiro de Deus, que tirai os pecados de mãe”.